quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Nossos velhos


Pais heróis e mães rainhas do lar. Passamos boa parte de nossa existência cultivando estes estereótipos. Até que um dia o pai herói começa a passar o tempo todo sentado, resmunga baixinho e puxa os assuntos sem pé nem cabeça. A rainha do lar começa a ter dificuldade de concluir as frases e dá pra implicar com a empregada. O que papai e mamãe fizeram para caducar de uma hora para a outra? Fizeram 80 anos.

Nossos pais envelhecem. Ninguém havia nos preparado para isso. Um belo dia eles perdem o garbo, ficam mais vulneráveis e adquirem umas manias bobas. Estão cansados de cuidar dos outros e de servir de exemplo: agora chegou a vez de eles serem cuidados e mimados por nós, nem que para isso recorram a uma chantagenzinha  emocional. Têm muita quilometragem rodada e sabem tudo, o que não sabem eles inventam. Não fazem mais planos a longo prazo, agora dedicam-se a pequenas aventuras, como comer escondido tudo o que o médico proibiu. Estão com manchas na pele. Ficam tristes de repente. Mas não estão caducos: caducos ficam os filhos, que relutam em aceitar o ciclo da vida.

É complicado aceitar que nossos heróis e rainhas já não estão no controle da situação. Estão frágeis e um pouco esquecidos, têm este direito, mas seguimos exigindo deles a energia de uma usina. Não admitimos suas fraquezas, seu desânimo. Ficamos irritados se eles se atrapalham com o celular e ainda temos a cara de pau de corrigi-los quando usam expressões em desuso: calça de brim? frege? auto de praça?

Em vez de aceitarmos com serenidade o fato de que as pessoas adotam um ritmo mais lento com o passar dos anos, simplesmente ficamos irritados por eles terem traído nossa confiança, a confiança de que seriam indestrutíveis como os super-heróis. Provocamos discussões inúteis e os enervamos com nossa insistência para que tudo siga como sempre foi.

Essa nossa intolerância só pode ser medo. Medo de perdê-los, e medo de perdemos a nós mesmos, medo de também deixarmos de ser lúcidos e joviais. É uma enrascada essa tal de passagem do tempo. Nos ensinam a tirar proveito de cada etapa da vida, mas é difícil aceitar as etapas dos outros, ainda mais quando os outros são papai e mamãe, nossos alicerces, aqueles para quem sempre podíamos voltar, e que agora estão dando sinais de que um dia irão partir sem nós.



Texto extraído do livro Felicidade Crônica - Martha Medeiros

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Tome uma decisão, e então aja de acordo com ela




Todos nós reclamamos de alguém: do dentista, da babá, do contador. Nós descobrimos o jeito deles. Eles são superficiais, preguiçosos, descuidados, incompetentes ou desonestos, no entanto continuamos recorrendo a eles como cordeiros indo ao matadouro. Por que nos damos ao trabalho de chegar à conclusão correta, se não vamos agir de acordo com ela? Por que simplesmente não fazemos a coisa certa?

     Pode haver várias razões. Algumas vezes, hesitamos por causa de caridade equivocada ou por falta de confiança em nosso próprio julgamento. Temos ainda alguma dúvida sobre nossa impressão e sentimos que se formos um pouco mais fundo, encontraremos a informação que nos falta para explicar o comportamento da pessoa. Se você não estiver convencido de que sua evidência é consistente, é melhor voltar atrás e reunir mais informações. Mas lembre-se, não existe garantia de que você venha a entender completamente alguém, por mais informação que você consiga reunir. E em algum ponto você terá de tomar uma decisão, ou cairá na armadilha da "paralisia de análise".

    Algumas pessoas não conseguem agir simplesmente porque não conseguem suportar a dor emocional ou a incerteza de uma decisão difícil. Se você tem este problema, lembre-se de que manter o status quo também é uma decisão. Se um relacionamento não está funcionando, a decisão de não mudar é uma decisão de permanecer nele.

    Experimente um truquezinho, quando você estiver entalado numa situação e não for capaz de agir de acordo com a informação que reuniu. Faça de conta que tem diversas escolhas, uma das quais é exatamente deixar as coisas do modo que estão. Por exemplo, se estiver questionando se o seu relacionamento romântico atual é certo para você, pergunte-se: se eu fosse solteiro e encontrasse alguém exatamente igual a esta pessoa com quem estou envolvido atualmente, iria desejar um relacionamento com nova pessoa, ou preferiria continuar procurando? Avalie objetivamente toda a informação disponível. Se você descobrir que está evitando a perspectiva de entrar num novo relacionamento exatamente igual àquele em que está, então pode ser o momento certo para uma mudança.
    Há alguns anos experimentei este exercício, pois estava insatisfeita com a minha secretária. Eu me perguntei se a contrataria se precisasse de uma secretária e ela se candidatasse. E tive de responder um sonoro não. Por mais simples que pareça, precisei deste exercício para me ajudar a tomar a decisão correta.

    Algumas vezes, adiamos decisões porque nos enganamos, acreditando que a pessoa que nos desapontou irá mudar. Isso não acontece só entre namorados, casais e amigos. Por exemplo, os advogados deveriam saber disso, mas tenho visto muitos deles aceitarem um jurado que lhes é abertamente hostil porque acreditam que tal jurado pode mudar de opinião por causa de sua eloqüência. Mas raramente vi isso acontecer. Depois de observar milhares de pessoas tomando decisões, aprendi que é muito mais fácil mudar o modo como você pensa sobre uma pessoa do que mudar o modo como a pessoa pensa!
   


Texto extraído do livro Decifrar Pessoas - Jo-Ellan Dimitrius e Mark Mazzarella

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Quando a luz se acende...


             ...  Certa vez uma pessoa dormia mal porque morava num porão escuro.
                  Ela sonhava em colocar uma lâmpada no ambiente. Depois de muito pensar, contratou um eletricista e colocou a tão desejada lâmpada!
                  Antes de acendê-la, pensou: " Agora finalmente vou dormir tranquilo." Ao acendê-la, uma surpresa. Perdeu o sono. Por quê?
                  Porque a luz expôs uma realidade que ela não via: sujeira, insetos, aranhas... Só descansou depois de uma bela faxina...
                  Infelizmente, alguns preferem continuar no escuro!
                  De qualquer forma, de vez em quando vale a pena acender a luz do seu porão e fazer uma faxina na sua vida...


             

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Canção das mulheres

    Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.
     Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
     Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se  irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.
     Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.
     Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
     Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
     Que o outro sinta quando me dói a ideia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida, não porque lá está a sua verdade mas talvez seu medo ou a sua culpa.
    Que se começo a chorar sem motivo depois de um dia daqueles, o outro não desconfie logo que é culpa dele, ou que não o amo mais.
    Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo " olha que estou tendo muita paciência com você!"
    Que se me entusiasmo por alguma coisa o outro não a diminua, nem me chame de ingênua, nem queira fechar essa porta necessária que se abre para mim, por mais tola que lhe pareça.
    Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
    Que quando levanto de madrugada e ando pela casa, o outro não venha logo atrás de mim reclamando: " Mas que chateação essa mania, volta pra cama!"
    Que se eu peço um segundo drinque no restaurante o outro não comente logo: "Poxa, mais um?"
    Que se eu eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.
    Que o outro - filho, amigo, amante, marido - não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.
   Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.



Extraído do livro Pensar é transgredir - Lya Luft

domingo, 30 de agosto de 2015

Uma flor selvagem


         O amor é uma escultura que se faz sozinha.
         É uma flor inesperada sem estação do ano para surgir nem morrer. Vai sendo esboçada assim ao leu: aqui a sobrancelha se arqueia, ali desce a curva do pescoço, a mão toca a ponta de um pé, no meio estende-se a floresta das mil seduções.
          Imponderável como a obra de arte, o amor nem se define nem se enquadra: é cada vez outro, e novo, embora tão velho. Intemporal. Planta selvagem, precisa de ar para desabrochar mas também se move nos vãos mais escuros, em ambientes sufocantes onde rebrilham os olhos malignos da traição ou da indiferença, e a culpa o pode matar.
          O convívio é o exercício do amor na corda bamba. Os corpos se acomodam, as almas se espreitam, até se complementam. Mas pode-se cair no tédio - sem rede -, e bocejar olhando pela janela.
           Inventamos receitas para que o amor melhore, perdure, se incendeie e renove... nem murche nem morra. Nenhuma funciona: ele foge de qualquer sensatez, como o perfume das maçãs escapa num cesto de vime tampado.
           Se fôssemos sensatos haveríamos de procurar nem amar, amar pouco, amar menos, amar com hora marcada e limites. Mas o amor, que nunca tem juízo, nos prega peças quando e onde menos esperamos.
            Nunca nos sentimos tão inteiros como nesses primeiros tempos em que estamos fragmentados: tirados de nós mesmos e esvaziados de tudo o mais, plenos só do outro em nós.
            Nos sentimos melhores, mais bonitos, andamos com mais elegância, amamos mais aos amigos, todo mundo foi perdoado, nosso coração é um barco para o qual até naufragar seria glorioso (ah, que naufrágios...).
            Mais que isso, nesse castelo - como em qualquer castelo - não pode haver dois reis. Quem então cederá seu lugar, quem será sábio, quem se fará gueixa submissa ou servo feliz, para que o outro tome o lugar e se entronize e... reine?  
             A palavra "liberdade" teria de ser a mais presente, porém a mais convidada a discretamente afastar-se  e permitir que em seu lugar assuma o comando alguma subalterna: tolerância, resignação, doação, adaptação.
             Rondando o fosso do castelo, a vilã de todas: a culpa.
             Quem deixou sobre minha mesa um bilhete dizendo " Se você ama alguém, deixe-o livre" sabia das coisas, portanto sabia também o desafio que me lançava. No mundo das palavras há tantos artifícios quantas são as nossas contradições.
              Por isso, conviver é tramar, trançar, largar, pegar, perder, e nunca definitivamente entender o que - se fôssemos um pouco sábios - deveríamos fazer.
              Farsa, tragédia grega ou dramalhão mexicano, às vezes comédia de mau gosto, outras soneto perfeito: o amor, como as palavras, se disfarça em doces armadilhas ou lâminas mortais.



Extraído do livro: Pensar é transgredir - de Lya Luft

quarta-feira, 29 de julho de 2015

"... Sonha, Alice..."

     


           Ontem, recebi, através de meu e-mail, essa pérola (título) de alguém que, pela a ironia do contexto, há muito perdeu sua capacidade de sonhar e de acreditar em seus sonhos!
            Eu, felizmente, sempre acreditei nos meus, pois foi através deles que eu perdi o medo de me arriscar e de me transportar para um mundo de muitas possibilidades e assim,  promover inúmeras transformações em minha vida e na das pessoas que eu amava e admirava!
            Em 1973, quando ingressei pela primeira vez em uma Universidade, durante uma aula de Filosofia, do Primeiro Semestre de Letras, o professor, que era padre, daqueles bem irônico, que se sentia bem acima de todos nós alunos, levantou uma questão a respeito do ... " Querer nem sempre é Poder"... E durante a discussão ele ponderou sobre a impossibilidade de um jovem da periferia de Fortaleza querer ter acesso à Universidade, tendo em vista à sua realidade financeira como, ( meios de transporte, material didático ), capacidade cognitiva, etc e etc...).  Como toda "chata" que se preza, levantei a mão e lhe contestei: Professor, sou uma desses jovens que mora na periferia, tomo dois ônibus para chegar até aqui, e  nunca deixei de estudar por falta de material didático. E, nas mesmas condições que eu, nesta sala tem vários outros jovens de várias periferias que ingressaram nesta Universidade!
O irônico professor me olhou pasmo, e nem preciso lhes dizer que quase me reprovou, durante aquele semestre!
              Mas voltando ao título: "Sonha Alice", gostaria de enfatizar que não permitam a nenhum "babaca" interferir no tamanho dos seus sonhos, como queria fazer o infeliz daquele meu professor de Filosofia, pois mesmo morando, naquela época, na periferia da cidade, nada me impossibilitou de me deslocar dali e de conhecer grande parte do mundo, lindos lugares, cidades maravilhosas e de ter tido a felicidade de interagir com várias pessoas simples e inteligentes,  de todos os cleros e línguas estrangeiras e com elas ter aprendido e falado algumas.
             Foi acreditando nos meus sonhos que também me radiquei em Brasília, em 1979, que me recebeu de braços abertos, que me proporcionou mais liberdade e os meios de sobrevivência material e espiritual, onde vivi várias paixões, conheci o amor da minha vida, me casei e desse casamento nasceu minha linda e inteligente filha Paula, o meu maior sonho de vida e a minha melhor obra de arte, até hoje!  Por isso e por mais outros motivos insisto e persisto que:  Alice Deve Continuar Sonhando!!!

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Rubel - Quando Bate Aquela Saudade




            Tudo em nossa vida, como nas Estações do Ano, tem seus ciclos! E cada um que começa terá certamente o seu tempo e seu fim. E aí vem a saudade. Das pessoas, dos lugares, dos aromas, dos sons e a até mesmo do silêncio! E todas essas vivências nos convidam a dimensionar centenas e centenas de histórias para nós mesmos, que podem, de um certo modo, nos causar tristezas, ansiedades, já que muitas vezes estamos impedidos de estar em alguns lugares ou na presença de alguém que gostaríamos de conviver.
             Por outro lado, esse sentimento também pode nos levar a criarmos novas alternativas para lidarmos com a ausência, que, na maioria das vezes é provisória. É ele que inspira a maioria dos grandes artistas, músicos e escritores de todo o mundo e de todas as épocas a transformarem o papel e a tela em branco em obras maravilhosas que nos transportam, mesmo sem sairmos da nossa "bolha"!
             Então como usarmos o sentimento da saudade em nosso favor? Basta pensarmos que a saudade é "... o amor que fica"...! É a sensação boa de sentirmos o calor dos raios do sol através da janela, mesmo quando a tempestade bate à nossa porta. É a capacidade de percebermos todos os aromas, mesmo quando o vento insiste em dissipá-los! É poder sentirmos a presença de quem amamos, mesmo estando constantemente sozinhos! Dessa forma, a saudade vai diminuindo gradativamente, até que possamos lidar com a ausência das coisas e das pessoas com quem gostaríamos de estar sempre próximos.


  

domingo, 17 de maio de 2015

Compromisso emocional: o vínculo que cega

     Todos nós sentimos amor, amizade, desprezo e até ódio por algumas pessoas em nossas vidas. Esses sentimentos tendem a comprometer nossa objetividade. Não queremos pensar mal das pessoas que amamos, e não queremos ver nada de bom naquelas que odiamos. Para complicar ainda mais a questão, não gostamos de mudanças. Por segurança e conveniência, temos um compromisso emocional - conosco - de manter as coisas exatamente como estão. A mesma corrente subterrânea que nos leva na direção do status quo também deturpa nossa objetividade quando estamos decidindo se devemos mudar.
      Pode ser muito difícil manter a objetividade quando se está emocionalmente comprometido com o resultado específico. Quanto maior o compromisso emocional, maior a tendência a se comportar irracionalmente. É por isso que os conselheiros normalmente são contra a intimidade sexual até que o respeito mútuo, a confiança e a amizade estejam bem estabelecidas. Uma vez que o ingrediente poderoso e prazeroso do sexo tenha sido acrescentado a um relacionamento, tenderemos a desconsiderar até mesmo os defeitos básicos até que a paixão diminua. E aí poderemos estar bem adiantados no caminho de um desastre emocional. 
       Nem sempre é possível evitar decisões quando se está emocionalmente vulnerável, mas, consciente das armadilhas, pode-se desviar de muitas delas. Para começar, tente evitar as situações em que se sinta pressionado na direção de uma resposta específica. Nessas circunstâncias, você perderá a objetividade. E como resultado, tomará uma decisão ruim, e depois relutará em reconhecer seu erro, mesmo que ele se torne óbvio. Se entrevistar a filha de um amigo para um emprego, você poderá deixar de lado as deficiências fundamentais dela, porque não quer dizer ao seu amigo que a filha dele não está à altura. Se contratar o vizinho como seu contador, ou o companheiro de golfe como seu advogado, você tenderá a subestimar coisas que não aceitaria se não fosse a amizade. Sempre que os seus mundos colidem, você traz os compromissos emocionais de uma situação para a outra.  Se misturar negócios com prazer, o resultado pode ser bom, mas o mais provável é que seu desejo de que todos sejam felizes e de evitar o confronto faça com que você enxergue as pessoas equivocadamente.
      Outro modo comum pelo qual criamos compromisso emocional é reconhecido numa típica instrução de júri: ao iniciar suas deliberações, os jurados são instruídos a não expressar os sentimentos sobre o caso, até que tenham discutido. Quando as pessoas se comprometem publicamente com um ponto de vista específico, elas relutam em mudá-lo. Orgulho, teimosia ou medo de admitir que nos enganamos entram no meio do caminho. Se sua meta é ser objetivo ao avaliar as outras pessoas, não se precipite anunciando a seus amigos, familiares ou colegas de trabalho os sentimentos que tem em relação a alguém, antes de ter tido tempo para reunir a informação pertinente e pensar cuidadosamente sobre ela.
      Se você precisar avaliar alguém com quem está emocionalmente comprometido, pelo menos esteja consciente de que sua objetividade provavelmente será menor. (.......). Dê a você mesmo um pouco mais de tempo e de esforço antes de chegar a alguma conclusão definitiva. Pense se um amigo respeitado e em quem você confia poderia lhe trazer uma nova perspectiva. Faça o papel de advogado do diabo, perguntando a si mesmo como você veria a pessoa se não estivesse  tão envolvido na situação. Mesmo que não consiga eliminar a influência de seu compromisso emocional, você poderá minimizá-la usando uma ou mais destas técnicas.


Extraído do livro Decifrar Pessoas de Jo-Ellan Dimitius - Mark Mazzarella.
         

terça-feira, 12 de maio de 2015

Podemos curtir os Sessenta sem Medos e com muita Paixão!


Entre 20 e 35 anos de idade, pensamos que a vida tem mais sentido nessa fase, devido ao excesso de vitalidade, de beleza, de otimismo e de oportunidades! Acreditamos em tantas possibilidades futuras que, até nos esquecemos de perceber a vida como ela se nos apresenta, deixando passar centenas de situações proveitosas e interessantes... Então bate um grande arrependimento e, acreditamos que, dificilmente teremos novas chances de sermos felizes. Ledo engano!

Em cada fase de nossas vidas sempre haverá um novo olhar, uma nova intensão e um novo jeito de buscarmos outras e, muitas vezes, até mais interessantes formas de realizações.  

O que buscamos em cada fase de nossas vidas é, sem dúvida,  a maneira mais fácil e mais rápida para podermos usufruir da felicidade. E como a felicidade é atemporal, podemos encontrá-la em qualquer década de nossas vidas, basta que estejamos atentos aos inúmeros significantes e significados.

Tudo vai depender do que estamos buscando. Alguns de nós buscamos os bens materiais, outros o reconhecimento, outros o poder, a paixão, a realização profissional, uma família, ou a si mesmo!

Normalmente, ao chegarmos aos 60 anos de idade, já deveríamos ter realizado grande parte desses desejos, mas não necessariamente todos, nem nessa ordem. Muitos de nós já tivemos conquistas profissionais, grandes amores, fiéis amigos, uma bela família, uma boa posição social, já visitamos muitos lugares maravilhosos por aí afora, no entanto não significa que perdemos o poder da busca! Essa deve ser uma constante em nossas vidas, principalmente a do verdadeiro amor, de mais uma nova paixão, mesmo que seja passageira, já que tudo é finito. Aquele amor que nos dá e nos tira o fôlego, a paciência, a disciplina, a coerência, a inflexibilidade. Que nos faz perdermos o medo de nos arriscar para não parecermos ridículos. Que nos impulsiona a irmos mais adiante, já que estamos apenas no meio do caminho. E por quê não querermos voltar a fazer coisas que anteriormente sempre nos davam prazer, como por exemplo, escrever aleatoriamente, tocar um instrumento, cantar, dançar,  pintar, conhecer novas pessoas, ou provocar reencontros com pessoas que marcaram de alguma forma nossas vidas?

Para sermos mais felizes nessa fase da vida, não precisamos exigir tanto de nós, nem dos outros. Basta nos permitirmos mais e nos deixar levar pelo sentimento de que tudo é possível  e tentarmos tirar proveito de todos os pequenos gestos, (que não são poucos...), das carícias, dos abraços, beijos, etc., já que todas essas sensações não morrem com a idade, apenas adormecem!      

sábado, 4 de abril de 2015

O que a vida oferece

       Conversando outro dia com um senhor saudosista, ele me contou que,quando sua filha tinha uns 10 anos de idade, ele costumava pegá-la pela mão e propunha:  "Vamos dar uma volta na rua para ver o que a vida oferece".
      Tanta gente aí esperando ansiosamente para ver o que a vida oferece, só que não sai de casa, e quando sai, não tem curiosidade e abertura para receber o que ela traz.
       Infelizmente, já não caminhamos pela rua, a não ser num ritmo acelerado, com trajeto definido e com intuito de queimar calorias. Marchamos rumo a um melhor condicionamento físico, o que é um belo hábito, mas, flanar, não flanamos mais. Não passeamos. As ruas estão esburacadas, há muitas ladeiras, o trânsito é barulhento e selvagem, compreende-se. Mesmo assim, a despeito de todos os inconvenientes, é preciso dar uma chance à vida, colocando-nos à disposição para que ela nos surpreenda.
     Ao sair sem pressa, paramos numa banca de revistas e descobrimos uma nova publicação. Dizemos bom dia para o jornaleiro e ele, gentil, nos troca uma nota de valor alto. Na calçada encontramos um velho amigo. Ou um artista famoso. Ou alguém que sempre nos prejudicou e hoje está mais prejudicado que nós, bem feito.
        Na rua, pegamos sol. Paramos para tomar um suco de maracujá com maçã. Flertamos. Um novo amor pode surgir de uma caminhada tranquila numa rua qualquer. E uma nova proposta de trabalho pode surgir de um esbarrão num ex-colega: " estava mesmo pensando em te procurar, cara".  Se continuasse apenas pensando, nada aconteceria.
        Na rua, o jeito de se vestir de uma moça inspira a gente a resgatar uma jaqueta que não usávamos mais. Bate de novo a vontade de ter um cachorro. Descobrimos que é hora de marcar um exame minucioso no joelho direito, por que ele incomoda tanto?
         Encontramos umas amigas num bistrô e paramos um instantinho para conversar, e então ficamos sabendo de uma exposição que não s e pode perder. 


         Passamos por uma livraria e damos uma namoradinha num livro que nos seduz. Ajudamos uma senhora que está saindo com várias sacolas de um supermercado, não custa dar uma mão. Aceitamos o folheto entregue por um garoto na esquina, anunciando uma cartomante que promete trazer seu amor de volta em três dias. Você joga o folheto no lixo, e não no meio-fio. Você compra flores para a sua casa. Você observa a fachada antiga de um prédio e resolve voltar ali com uma máquina fotográfica. Você entra numa igreja, não fazia isso há anos. Reencontra um ex-namorado que passa de carro e lhe oferece uma carona. Você nem tinha percebido como havia caminhado e como estava longe de casa. Aceita a carona. Um novo amor não surgiu, mas seu antigo amor foi resgatado em menos de três dias, nem precisou de cartomante.
          Pode nada disso acontecer, óbvio. Mas sem dar uma chance à vida é que não acontece mesmo.


Texto extraído do livro Felicidade Crônica - Martha Medeiros.  

quinta-feira, 12 de março de 2015

Um poema filmado

           

              ... Ela, a vida, essa que nos faz entrar em bares suspeitos, chorar de amor, espiar pelas frestas, pegar no sono em cima de um balcão depois de beber demais. É noite escura e a gente sofre calado, deixa a conta pendurada, bebe de novo quando havia prometido parar e morre - morre mesmo! - de ciúmes sem ter tido tempo de saber que éramos amados.

               A vida e nossos vícios, nossas perdas, nossos encontros: quanto mais nos relacionamos com os outros, mais conhecemos a nós mesmos, e é uma boa surpresa descobrir que, afinal, gostamos de quem a gente é, e quando isso acontece fica mais fácil voltar ao nosso ponto de origem, onde tudo começou.
               A vida e a espera por um telefonema, a vida e seus blefes, e nosso cansaço, e nossos sonhos, e a rotina e as trivialidades, e tudo aquilo que parecerá sem graça se ninguém colocar um pouco de poesia no olhar. A vida e suas pessoas belas, feias, fortes, fracas, normais. Todas atrás da chave: aquela que abrirá novas portas, velhas portas, a chave que nos fará ter o controle da situação - mas queremos mesmo ter o controle da situação?  Não será responsabilidade demais? Deixar a chave nas mãos do destino é uma opção.

             Os sinais fecham, os sinais abrem. Você segue adiante, você freia. A gente atravessa a rua e vai parar em outro mundo, basta dar os primeiros passos. Viaja para esquecer, viaja para descobrir, e alguém fica parado no mesmo lugar, aguardando (quando pequeno, sua mãe lhe ensinou que, ao se perder na multidão, não é bom ficar ziguezagueando, melhor manter-se parado no mesmo lugar, aí fica mais fácil ser encontrado). Muitos estão parados no mesmo lugar, torcendo para serem descobertos.

                A vida como uma estrada sem rumo, a vida e seus sabores compartilhados, um beijo também é compartilhar um sabor.
                



Texto extraído do livro Felicidade Crônica - Martha Medeiros.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Aprendemos com a Natureza!

 
     Viver é perder as cascas continuamente!
 
      Há momentos da vida em que somos desafiados a perdê-las...

      Impulsionados a compreendermos a importância de caminharmos e de seguirmos em frente, deixando determinadas paisagens pra trás. Embora isso venha a nos custar alguns sofrimentos, já que o desapego nunca foi tarefa fácil de lidarmos, tendo em vista nosso ego se estruturar a partir de apegos e identificações...

       A compreensão reflexiva de que tudo passa, nos permitirá que avancemos para podermos nos abrir ao novo, ao desconhecido que, belamente, se nos apresenta de vez em quando e, certamente nos introduzirá outras perspectivas de apreciá-lo, mesmo que temporariamente...

       Contemplemos a Natureza, ela é sábia.  Está sempre se renovando, continuamente, a cada estação! Sempre perdendo e ganhando novas formas e cores! Viver é isso, é podermos nos permitir dar um passo a frente e, sentirmos o prazer da descoberta, uma chance a mais para
identificarmos e ampliarmos o nosso núcleo diante de novas e intrigantes paisagens...    
   

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A morte como consolo...

Assim como qualquer mortal, eu também esquento a cabeça com questões de difícil praticidade. Teorizar é moleza, mas como agir do mesmo modo que essas super-mulheres que a gente vê nas revistas e jornais, sempre bem resolvidas? Você acha que eu sei? Sei nada.

     Eu também me desgasto com assuntos mundanos, aqueles que nos atormentam dia e noite: sinto ciúmes, me constranjo ao negar convites, às vezes acho que sou severa demais com minhas filhas, às vezes severa de menos, não consigo ser tão solícita quanto gostaria, me sinto desatualizada em relação a tanta coisa, não sei direito a direção para qual conduzir minha vida, enfim, coisinhas que nos roubam alguma horas preciosas de sono.

     Como não faço terapia e não posso perder nem um minuto precioso de sono, já que normalmente durmo pouco, resolvi procurar um método pessoal pra relativizar meus pequenos grilos cotidianos. E encontrei um que pode parecer macabro, mas está funcionando. Quando estou muito preocupada com alguma coisa, penso: eu vou morrer.

     Óbvio que vou morrer, todo mundo sabe que vai morrer um dia, mas a gente evita pensar nesse assunto desagradável. No entanto, tenho pensado na morte não como uma tragédia, mas como um recurso para desencanar dos problemas, e então a morte se torna, ulalá, um paliativo: daqui a quarenta anos, mais ou menos, eu não vou estar mais aqui. O que são quarenta anos? Um flash. Todas as minhas preocupações desaparecerão. Nada do que eu sinto ou penso permanecerá, ao menos não para mim mesma - o que as pessoas lembrarem de mim será de responsabilidade delas. Eu vou evaporar. Sumir. Escafeder-me. Então para que me preocupar com bobagem?

    Diante da morte tudo é bobagem. Recapitulando os exemplos dados no segundo parágrafo: ciúmes? Ouvi bem: ciúmes? De quem, pra quê, se todos irão pra baixo da terra e ninguém sobreviverá para cantar vitória? Aproveite os momentos que você tem hoje - hoje! - pra desfrutar seus prazeres e não pense em perdas e ganhos, isso não existe, é pura ilusão.

    Os filhos nos amam, mas fatalmente reclamarão de nós um dia, não importa o quão bacana fomos com eles. Ser 100% solícita é coisa para Madre Teresa. Atualização pode ser importante para o trabalho, mas nem sempre para o nosso bem-estar. E, finalmente, seja qual for a direção que você der à sua vida, o que importa é que ela seja satisfatória hoje (repito a palavra mágica - hoje!) porque daqui a pouco você e suas preocupações virarão poeira. Até Ivete Sangalo vai virar poeira.

     Importantíssimo ( me descuidei, deveria ter colocado esse último parágrafo lá no início, mas já que vou morrer, dane-se): se você tem menos de 40 anos, desconsidere todas essas linhas dessa crônica. Leve seu nascimento a sério. Antes de 40, ninguém vai morrer. Essa é a ordem natural do pensamento humano. Pague seus impostos, preocupe-se com a direção que sua vida está tomando, morra de ciúmes, dê-se o direito a todas as cenas passionais e irracionais que incrementam seu script: não se entregue ao fatalismo. Honre o primeiro ato dessa encenação chamada vida.

    Porém, depois dos 40, apenas divirta-se e não perca tempo se preocupando com bobagens. Vai dar em nada.


Felicidade Crônica - Martha Medeiros - 8a. Edição.    

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Porque nos Amamos...

Meu querido e complicado amor, bom dia! 

Hoje acordei um pouco inspirada e pensei numa maneira mais sutil de lhe esclarecer os verdadeiros motivos pelos quais nos amamos...


Nos amamos porque aprendemos a nos revelar um para o outro. Mesmo nos momentos mais inconvenientes, não conseguimos disfarçar nossas ansiedades, nossas inseguranças, nossos medos, as nossas expectativas, o nosso tesão sempre constante e até as nossas "mentiras virtuosas"... Risos.

Não precisamos mais de nos esconder por baixo de nossas máscaras cotidianas, querendo parecermos cem por cento perfeitos, já que não somos, certamente nunca o fomos e nem seremos.

Nos amamos nos vendo nus, sem nenhuma regalia, sem preconceitos e disfarces que a idade exige...
Nosso medo é compreensível! 

Nossas pequenas mentiras são até aceitáveis, considerando o tamanho da pressão pela qual temos que suportar...

Nossa "traição", apesar de complicada, é perfeitamente absolvida, já que nossos propósitos e sentimentos são verdadeiros e antigos...

Enfim, nos amamos porque somos muito parecidos, não iguais, já que o tamanho de nossas ambições sempre foi diferenciado...

Por isso e por outras dezenas de pequenas e significativas coisas é que continuo fazendo de conta que um dia seremos cada vez mais "livres", ao nosso modo, é claro, sem os freios e as amarras dos empecilhos dos milhares de quilômetros que nos separam, apesar de nos tornarem sempre próximos, cada vez mais um do outro...
          
Um grande e caloroso abraço de sempre!
    


domingo, 11 de janeiro de 2015

Desejo que Desejes

       Eu desejo que desejes ser feliz de um modo possível e rápido,
 desejo que desejes uma via expressa rumo a realizações que não sejam utópicas,  e sim viáveis,
 que desejes coisas simples como um suco gelado depois de correr ou
 um abraço ao chegar em casa,
desejo que desejes com discernimento e com alvos bem mirados.
      Mas desejo também que desejes com audácias,
que desejes uns sonhos descabidos e que ao sabê-los impossíveis não os leve em grande consideração,
mas os mantenha acesos, livres de frustração,
desejes com fantasia e atrevimento, estando alerta para as casualidades e os milagres, para o imponderável da vida, onde os desejos secretos são atendidos...
    Mas desejo também que desejes uma alegria incontida, que desejes mais amigos, e nem precisam ser melhores amigos, basta que sejam bons parceiros de esporte e mesas de bar, que desejes o bar tanto quanto a igreja, mas que o desejo pelo encontro seja sincero, que desejes escutar as histórias dos outros e acreditar nelas e desacreditar também - faz parte este ir e vir de certezas e incertezas -, que desejes não ter tantos desejos concretos, que o desejo maior seja a convivência pacífica com outros que desejam outras coisas...
    Desejo que desejes alguma mudança...
 
Desejo que desejes um ano inteiro de muitos meses bem fechados,
que nada fique por fazer, e desejo principalmente, que desejes desejar, que te permitas desejar,
pois o desejo é vigoroso e gratuito, o desejo é inocente, não reprima tuas vontades ocultas,
desejes vitórias, romances, diagnósticos favoráveis, aplausos, mais dinheiro e sentimentos vários, mas desejo antes de tudo que desejes simplesmente. 


Extraído do livro Felicidade Crônica, de Martha Medeiros - 8a. Edição.